domingo, 31 de maio de 2015

Gestão Democrática


A relação família-escola faz parte do dia a dia da Escola da Serra, sendo muito bem cuidada. A escola adota o modelo de gestão participativa ou gestão democrática, tendo a APES - Associação de Pais da Escola da Serra como entidade representativa das famílias.

Na parte da tarde, a escola abre às 13:00 e as aulas começam às 13:40 h. Durante esse período, as crianças/adolescentes ficam brincando no pátio e as famílias podem ficar conversando, almoçar na escola ou ficar com os alunos. Na hora da saída, a escola dá 50 min. de tolerância para as famílias buscarem seus filhos: a aula termina às 18:10 e a escola fecha às 19:00h. As crianças e adolescentes podem ficar brincando no pátio escolar e as famílias se encontram, conversam, assistem às aulas de futebol, enfim, é um momento lúdico e interativo.

Da mesma forma, a escola providencia toda a estrutura para as reuniões de pais organizadas pela APES: espaço físico, auxiliares pedagógicos para ficar com as crianças até o término da reunião, divulgação da reunião no espaço escolar e nas redes sociais. As reuniões são realizadas à noite, geralmente das 18:10 às 20:30 h.

Mesmo com todo esse apoio e com um diálogo aberto com as famílias, presenciei vários conflitos na relação família-escola. Muitas vezes, as famílias utilizavam o espaço escolar para reclamar da escola ou para falar mal da escola para outras famílias. São casos particulares de cada criança que, por insatisfação das famílias, acabavam sendo compartilhados com a comunidade escolar. Observei também famílias que resistiam muito à proposta pedagógica da Escola da Serra, apesar de a escola disponibilizar o documento no site institucional e de estar sempre aberta para tirar dúvidas, se for necessário. Outras vezes, as famílias buscavam as crianças depois das 19:00h. Nesses casos, há a previsão contratual para pagamento de multa, mas muitas famílias reclamavam, dizendo que "era um roubo", o que não era verdade porque se tratava de cláusula prevista no contrato de prestação de serviços feito com a escola, e não era uma apropriação indevida de nenhum bem das famílias, ou seja, a escola não estava cometendo nenhum crime.

Observando esse contexto, muitas vezes perguntei para a Supervisão Pedagógica porque a Escola da Serra insistia na proposta de uma gestão participativa, uma vez que dava margem para uma série de inconvenientes: fofoca, reclamações desnecessárias, falta de interesse das famílias para conhecer o trabalho pedagógico da escola e até acusações indevidas (como de roubo, por exemplo). Além disso, não entendia bem como as famílias, os alunos e os funcionários técnico-administrativos, pessoas leigas sobre Educação, poderiam participar da gestão de uma escola se a gente que faz Pedagogia tem que estudar tantas coisa...

Mas a Escola da Serra sempre foi muito fiel mesmo à gestão democrática, é uma proposta que a escola não vai abandonar.

No Módulo II do curso de Pedagogia, a democracia é o eixo temático das disciplinas "Política Educacional no Brasil" e "Escola, Sociedade e Cidadania". No Módulo III, fizemos o estágio supervisionado tendo como roteiro de observação a "gestão escolar democrática e formação e condições de trabalho dos profissionais da escola" (RICCI e MOURA, s/d, p. 3). No Módulo IV, tivemos a disciplina "Gestão Democrática da Escola". Essa forma de apresentar o conteúdo permitiu a associação entre a prática e a teoria.

Sobre a gestão democrática, Souza (2003) observa que se trata de uma determinação legal para o ensino nas escolas públicas, que visa a consolidação da democracia, envolvendo os diferentes grupos que participam da comunidade escolar, promovendo assim o exercício da cidadania. Para Sacristan (apud Souza, 2003, p. 168), são cinco os princípios que devem nortear a prática pedagógica: "acesso à educação[...], conteúdos de ensino e da Educação Democrática [...], as práticas organizacionais e pedagógicas [...], as relações interpessoais[...], relações entre escola e comunidade".

Souza (2003) também fala sobre os conflitos e os considera resultado da participação democrática de grupos com interesses distintos, ressaltando que esses conflitos precisam ser mediados, sem perder de vista a promoção da democracia e o desenvolvimento da autonomia da escola, o que estabelece um movimento entre as duas dimensões da escola: como espaço instituído (definido pela legislação ou por orientações como os Parâmetros Curriculares Nacionais) e instituinte (definido pela comunidade escolar). Nesse sentido, Pinheiro (2003) fala sobre a importância de se considerar a escola como parte de um sistema de ensino (Federal, Estadual e Municipal), articulando as práticas escolares com a normas que orientam a Educação nesses diferentes níveis.

Sobre a participação das pessoas da comunidade escolar, Pinheiro (2003, p. 157) esclarece que deve-se definir os papéis sociais de cada sujeito que participa da comunidade escolar e "suas possibilidades de atuação e de interferência na condução dos trabalhos".

A partir do estudo da gestão democrática, pude compreender melhor a proposta pedagógica da Escola da Serra e as medidas tomadas para garantir a participação coletiva. Nesse sentido, a escola se compromete com a consolidação da democracia, incentivando também o Grêmio Estudantil, as reuniões pedagógicas, e a participação ativa dos demais funcionários, que têm acesso direto aos gestores da escola sempre que necessário.

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