domingo, 31 de maio de 2015

Feminização do Magistério


Tanto no estágio supervisionado quanto na minha própria turma e em outras escolas que conheço, observei que as mulheres são maioria na docência na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Ficava me perguntando o que tinha levado essas mulheres a serem maioria nesses segmentos.

Outra característica que me chamou a atenção foi que, na Escola da Serra, nenhuma criança chama as professoras de "tia, mas que isso ainda é comum em várias escolas e até mesmo desejado por professoras formadas ou em formação e eu não entendia bem como era essa relação entre professora-aluno, questionando se isso era certo ou errado.

No Módulo III, ao estudar a História da Educação, obtive as respostas para esses questionamentos.

Sobre o assunto, Faria Filho (2003, p. 126-127) recupera a historicidade da feminização do magistério: se, por um lado, a docência era  "uma profissão ocupada majoritariamente por homens, até o final do século XIX [...], no fim do século XX, as mulheres ocupavam cerca de 95% dos postos de trabalho no magistério primário (ou equivalente)".

Faria Filho (2003, p. 130-131) aponta as razões da feminização do magistério no Brasil: baixos salários aliados à uma maior cobrança da presença do professor em sala de aula, o que dificultava conciliar a docência com outras ocupações; possibilidade de as mulheres conciliarem a carga horária de docência com os serviços domésticos; a visão da sociedade de que a mulher era, naturalmente, boa cuidadora; a docência vista com profissão moralmente aceitável para as mulheres; aumento do número de meninas que frequentavam a escola, o que demandava professoras, porque só mulheres podiam lecionar para turmas de meninas; oportunidade de ingresso das mulheres no mercado de trabalho, uma vez que muitas arcavam com as despesas domésticas, principalmente as mais pobres, aliando-se, a isso, uma maior participação das mulheres na "vida social, cultural e econômica das sociedades modernas". 

Paulo Freire (1997, p. 9), em seu livro "Professora Sim, Tia Não" também problematiza a inserção da professora no mercado de trabalho, não como tia, mas como profissional qualificada que é:

Ensinar é profissão que envolve certa tarefa, certa militância, certa especificidade no seu cumprimento enquanto ser tia é viver uma relação de parentesco. Ser professora implica assumir uma profissão enquanto não se é tia por profissão. Se pode ser tio ou tia geograficamente ou afetivamente distante dos sobrinhos mas não se pode ser autenticamente professora, mesmo num trabalho a longa distância, “longe” dos alunos.

 

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