domingo, 31 de maio de 2015

Jogos e Brincadeiras


Durante o curso, na hora de escolher o tema para o Trabalho de Conclusão de Curso — TCC, o critério escolhido por mim foi o tema que mais me lembrava o estágio supervisionado. Não tive dúvidas: jogos e brincadeiras.

A Escola da Serra prioriza as brincadeiras e a socialização na Educação Infantil e adota jogos como recurso pedagógico nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Para este segmento, inclusive, a escola organiza o ensino de conteúdos matemáticos utilizando jogos como recurso educativo, em uma atividade chamada Ciclo de Matemática. Além disso, a minha orientadora foi professora de Matemática no Centro Pedagógico da UFMG e trabalhou com jogos e Educação Matemática, tendo, inclusive, estudado o tema na sua dissertação de Mestrado. Ou seja, o contexto da redação do meu TCC era muito favorável ao tema "jogos e brincadeiras"

Entretanto, com o andamento do curso, comecei a ter muitas dificuldades para escrever meu TCC. Algumas dificuldades eram naturais em um trabalho acadêmico: as leituras necessárias, o aprendizado de novos temas e conceitos, a escrita acadêmica...

Mas eu também tive muita resistência para aceitar o tema, que me parecia, inicialmente, tão propício. Comecei a refletir sobre o que os jogos, as brincadeiras, os ciclos de formação e os conteúdos matemáticos representavam para mim. Considerando, então, a dimensão subjetiva, comecei a encontrar, no passado, representações que estavam interferindo na escrita do meu Trabalho de Conclusão de Curso. Para tanto, conto também com um psicanalista e faço análise uma vez por semana. Esse processo de autoconhecimento é uma escolha pessoal, que tem como objetivo me dar a oportunidade de refletir sobre as minhas questões e contextualizá-las, relacionando-as de forma positiva com as pessoas e situações vividas.

No caso dos jogos, quando eu era criança a minha família não tinha condições para me dar muitos brinquedos. Lembro-me de vizinhos que me chamavam para brincar, e os jogos aos quais tinha acesso eram sempre das crianças do prédio. Raramente ganhava brinquedos, principalmente jogos, que eram mais caros. Mesmo assim, ao buscar essa reflexão, lembrei-me de quando meu pai me deu um Jogo de Memória, que jogava comigo todas as noites, mesmo chegando cansado do trabalho. Naquela época, ele era representante comercial de roupas infantis e saía de casa de madrugada para chegar às cidades onde venderia as roupas para os lojistas. Outro momento recuperado foram os jogos de cartas com minha avó paterna: ela adorava jogar Escopa e nós sempre jogávamos quando ia visitá-la. Meus avós maternos também gostavam de jogar e meu avô tinha um Ludo de madeira que jogávamos sempre que eu ficava na casa deles, no sul de Minas. Essas lembranças permitiram que eu me relacionasse mais com os jogos, porque até então lembrava-me apenas dos jogos que eu não tinha. Atualmente, meu marido e minha filha adoram jogar jogos de tabuleiro e frequentam o UFMGames no Espaço do Conhecimento semanalmente. Sempre que dá tempo eu vou com eles. É muito divertido e os jogos são bem diferentes. Agora tenho vários jogos em casa, de tabuleiro ou de outros tipos. Não há mais motivo para resistir ao tema.

Sobre os conteúdos matemáticos, lembro-me de que, na escola, nunca usamos jogos para aprender. Na época, tínhamos muitos exercícios e decorávamos os conteúdos e a tabuada. Uma vez, fui para a casa dos meus avós maternos e as férias escolares, na cidade onde eles moravam, acabou mais cedo do que em Belo Horizonte. Acho que deveria ter mais ou menos uns 7, 8 anos. Então, para não ficar sozinha, fui para a escola com minhas amigas. Quando cheguei lá, a professora começou a revisar o conteúdo do ano anterior e me fez uma pergunta que eu não soube responder. Bem, a aula terminou e fomos para a casa das minhas amigas brincar. Quando eu cheguei na casa dos meus avós, a professora, que era vizinha, já tinha ido falar com minha mãe que eu não sabia Matemática. Resultado: fiquei o resto das férias estudando Matemática... Por outro lado, meu pai adorava Matemática e me ensinava muitas coisas. Eu também era boa nessa matéria, aprendia com facilidade e gostava de fazer os exercícios. Recuperar os momentos de sucesso no aprendizado de Matemática me ajudou a superar os momentos em que não fui bem sucedida. Não há mais motivo para não estudar o ensino de conteúdos matemáticos.

Sobre os ciclos, assim como na escola, a vida mesmo é um ciclo e cheia de ciclos: começamos e terminamos processos o tempo todo. O fechamento de ciclos, por alguma razão, é algo difícil para mim. Encerrar uma etapa e iniciar outra ainda é um desafio que me deixa bastante ansiosa. Aos poucos vou compreendendo o significado dos ciclos. Talvez, em alguns momentos, eu tenha precisado de mais tempo na vida, como as crianças e adolescentes precisam na escola. Em outros momentos, talvez essa dificuldade tenha mesmo me feito perder oportunidades. Mas são situações que podem ser ressignificadas e se transformar em caminhos para o enfrentamento e a superação de dificuldades. Como é dito na apresentação do Volume 1, do Módulo 7 da Coleção Veredas:


Você está quase atingindo sua meta: mais alguns meses e estará formado em nível superior! No entanto, a conclusão do Veredas não significa simplesmente o fim de um processo. Como toda conclusão, esta que você está vivenciando marca também o início de um novo período. Além de colher “os louros da vitória”, você vai continuar crescendo profissional e pessoalmente, pois esperamos que tenha “aprendido a continuar aprendendo”, a buscar informações, analisá-las, criticá-las, selecioná-las para construir saberes e conhecimentos nas interações com seus colegas, alunos e as pessoas em geral. (SALGADO; MIRANDA, 2004, p. 11)
  



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