quinta-feira, 11 de junho de 2015

Identidade Docente


Uma das coisas mais difíceis para mim durante o curso tem sido formar uma identidade docente. Isso se deve a diversos fatores.

Em primeiro lugar, minha família não valoriza a docência. Meus pais e meu irmão eram todos formados em nível superior mas não investiram na carreira docente, inclusive desvalorizando essa profissão. Durante toda a minha vida fui incentivada a fazer Medicina (argh!), o que não tem absolutamente nada a ver comigo. Segundo Araújo (2004, p. 132-133) ao falar sobre a psicanálise, os afetos não são apenas resultado dos sentimentos que temos "lá dentro de nós, nos sussuros do nosso coração", mas também pela forma como nos inserimos ou somos inseridos na sociedade, atribuindo assim, ao meio, a importância para o "nosso bem-estar afetivo", o que inclui as instituições das quais participamos: "família, escola, Estado, etc.).

Em segundo lugar, percebo que as professoras trabalham demais: a responsabilidade para educar e cuidar de crianças de 0 a 10 anos é imensa; é comum levarem serviço para casa; o planejamento precisa ser muito bem feito e levar em conta o desenvolvimento de cada criança, o que se faz através da observação atenta durante todo o período letivo; muitas famílias consideram a escola uma extensão do ambiente doméstico, desconsiderando as singularidades do espaço escolar; o trabalho precisa ser em equipe porque a proposta atual é de interdisciplinaridade, ao contrário do ensino de conteúdos segmentados, relacionando esses conteúdos com o dia a dia das crianças, dialogando com a realidade da comunidade escolar, entre outras responsabilidades.

A remuneração docente também é um grande problema porque as professoras recebem muito menos do que deveriam para se dedicarem o necessário para ofertar uma educação de qualidade.

A formação docente da UFMG/UAB é excelente, mas há muitos cursos péssimos de Pedagogia sendo ofertados e, no mercado de trabalho, essas pessoas vão fazer parte da equipe docente. E é muito ruim trabalhar com pessoas incompetentes. Acho que será um choque para as ex-alunas da UFMG/UAB o ingresso da regência de classe por isso. 

Sou também a favor da dedicação exclusiva. O que percebo que acontece é que as reuniões de planejamento e o atendimento às famílias são realizados durante as aulas especializadas (Ed. Física, Arte, etc.), o que compromete o trabalho das professoras. Nesse sentido, o contra-turno é que deveria ser organizado para essas reuniões, assim como para a formação de grupos de estudo.

A violência escolar também é outro fator a ser considerado. Já presenciei muitas situações de total desrespeito a profissionais da Educação no estágio docente obrigatório, o que foi até injusto porque na Escola da Serra todos os profissionais tratam as crianças e as famílias muito bem, com ética e educação.

A proposta atual do MEC para a Educação Infantil e para o Ensino Fundamental é excelente: adota a teoria do desenvolvimento da inteligência de Piaget, propõe o trabalho com ciclos de formação, propõe a avaliação processual, orienta as escolas para adotarem a gestão democrática, enfim, há uma proposta maravilhosa para a educação das crianças do País. Só que essa proposta demanda profissionais muito bem formados e informados. E a profissão docente é muito desvalorizada, as professoras, principalmente da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, são tratadas como mão-de-obra barata e reduzidas à meras cuidadoras das crianças, desconsiderando-se, assim, a dimensão intelectual da docência.

Por tudo isso, apesar de gostar muito da Educação, tenho muita dificuldade para formar uma identidade docente. Na verdade, tenho medo de me arrepender dessa escolha, apesar de sair da UFMG muito bem preparada para a regência de classe, tanto na Ed. Infantil quanto nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.


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